segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Juventude do PT e o Conjuve, sonhos e lutas de uma nova geração

* Joanna Paroli é Secretária Adjunta Nacional da Juventude do PT. 
A Juventude do PT e o Conjuve, sonhos e lutas de uma nova geração

A juventude brasileira tem muita esperança. Essa afirmação, além de se respaldar em pesquisas recentes, como a intitulada “Sonho Brasileiro”, se relaciona ao fato de vivermos um momento favorável de mudanças no plano econômico e social. Políticas como o aumento do salário mínimo, o PROJOVEM e o PROUNI, conformam uma nova geração de trabalhadoras e trabalhadores dotados de perspectivas, com mais autonomia e maior acesso à educação e aos bens culturais. Este dado, aliado ao que chamamos de bônus demográfico, onde pelo menos ¼ da população brasileira economicamente ativa é composta por jovens, caracteriza importante massa popular, nosso objeto de disputa de valores, que se organiza de diferentes formas e encontra mecanismos democráticos de participação em várias esferas da vida política.  
Para a Juventude do PT, esse é um tempo de disputa de rumos. A partir do Governo Lula, foi institucionalizada a Política Nacional de Juventude, com a criação da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), o que impulsionou uma virada no conceito de juventude e nova abordagem e entendimento de suas demandas específicas. Desse momento, até os dias de hoje, fundou-se um sólido processo que culmina no fortalecimento institucional dessa pauta e um reconhecimento crescente por parte de governos e do conjunto da sociedade civil. As experiências de gestões das PPJ`s e dos Conselhos, instrumento especial de democracia participativa, devem ser capilarizadas nos municípios e estados brasileiros, formando rede de atores que deem fôlego a essa discussão. 
O II Congresso da JPT, realizado no final de 2011, nos deixou importante legado. O primeiro foi tê-lo concebido também como um espaço de troca, debate e consequente acúmulo na temática de juventude, muito por conta do nosso protagonismo na formulação e execução das PPJ`s. O segundo, se refere a um sentimento consistente e coletivo entre a militância jovem petista, o de aprofundamento das relações com os movimentos sociais. É necessário que dialoguemos com prioridade com o conjunto dos movimentos juvenis, militantes dos movimentos sindical, estudantil, de cultura, juventude negra, mulheres, LGBT, pastorais sociais, entidades religiosas de matriz africana e ambientalistas. 
Na 2ª Conferência Nacional de Juventude, mobilização que atingiu mais de 500 mil jovens em todo o país, a Juventude do PT exercitou de maneira vitoriosa essa premissa. Fomos ponto de contato e referência de parcela significativa dos/as delegados/as e organizações participantes. Programaticamente, as diretrizes confirmadas em plenária final tiveram muito do acúmulo das juventudes progressistas, principalmente, da JPT     
No âmbito das políticas nacionais de juventude, o Conjuve se consolida como um dos principais espaços de articulação e acúmulo de forças das juventudes brasileiras. Nos seus sete anos de vida, o Conselho conseguiu a musculatura necessária para ampliar sua influência no diálogo com o governo, na disputa em torno dos principais pontos das PPJ`s e na relação com as diversas entidades. Pode-se afirmar que o Conjuve é hoje um retrato em ascensão da diversidade e pluralidade da juventude brasileira. E nele, também reside a marca da militância petista. Não só porque o disputa, mas porque imprime uma cultura política pautada na democracia e na defesa de uma plataforma libertária para a juventude.
A eleição 2012 do Conjuve, realizada no último dia 12 de abril, foi extremamente valorizada. O processo contou com um aumento significativo de entidades inscritas e habilitadas, foi incorporada a cadeira indígena, reivindicação anterior e importante conquista, e ampliou-se a participação da juventude rural e quilombola. Além disso, destaca-se a eleição da CUT, UNE e REJUMA, três entidades de atuação distintas, mas de peso político importante, seja pela base social que representam, seja pelo que se propõem como objetivos de luta. Por fim, há de se comemorar a participação das juventudes partidárias, com muita relevância da JPT, eleita titular por ampla confirmação dos/as presentes e notadamente o elo de diálogo com a maioria dos movimentos, fóruns e redes.     
Os próximos dois anos de gestão do Conselho serão de enfrentamento e desafios. Enfrentamento, porque ainda precisamos avançar em vários pontos nas políticas de juventude, como por exemplo: os Marcos Legais (Plano Nacional de Juventude e Estatuto da Juventude), a política de drogas e o combate ao extermínio da juventude negra. No plano geral, estamos comprometidos na luta em defesa da democracia, pelo direito à verdade e memória, pela reforma política e dos meios de comunicação, que ainda legitimam uma opinião dominante liberal, orientada pelo consumismo e rejeição das pautas coletivas, por mais direitos para as mulheres, pelo trabalho decente e por uma educação pública e de qualidade. 
Um importante desafio para a juventude é a disputa a ser travada a favor de um novo modelo de desenvolvimento. O uso sustentável e a preservação dos recursos ambientais devem estar em sintonia com as políticas de desenvolvimento econômico e social, reduzindo desigualdades com distribuição de renda. Para isso, torna-se necessário disputar a agenda da Rio+20, rechaçando a ideia de “economia verde”, encontrando saídas ao capitalismo predatório e abrindo caminhos para participação popular. Além disso, algumas de nossas riquezas naturais, como o pré-sal, precisam servir para produzir um novo ciclo econômico, com fortalecimento da esfera e do aparato industrial públicos, redimensionando o financiamento em áreas sociais. Por fim, é preciso acompanhar as discussões sobre o investimento na Copa 2014 e nas Olimpíadas 2016 no Brasil, pensando melhorias duradouras na mobilidade urbana, com uso de energias limpas no transporte público e combatendo a especulação imobiliária nefasta, o estímulo à prostituição e mercantilização das mulheres e o racismo ambiental.
O papel que a Juventude do PT vai jogar está definido. Para além de Conselheira do Conjuve, temos responsabilidade em protagonizar as ações necessárias, tanto pela via institucional como na vida social, para implementar mais conquistas para a juventude brasileira. Nossa defesa é pela unidade do campo democrático e popular e o fortalecimento da aliança com os movimentos sociais. Só assim alcançaremos os pilares que fundamentam os anseios da juventude, uma vida com igualdade, com direitos assegurados e possibilidade de viver plenamente sua condição juvenil.  O que nos move são os sonhos, mas, sobretudo, é com muita luta política que se constrói um outro mundo. 
Fonte: Democracia Socialista 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

É com política que se disputa a juventude


É com política que se disputa a juventude

Sabíamos que a primeira presidenta da história do Brasil teria uma tarefa árdua pela frente, mesmo se ganhasse com facilidade as eleições presidenciais. Substituir o presidente mais popular da história não é tarefa simples, mesmo que conte com total apoio deste líder.
No campo econômico e social, o governo Dilma não vem comprometendo os avanços conquistados no governo Lula. Mesmo a taxa de juros tendo aumentado no começo do governo, hoje apresenta uma tendência de queda e se dirige para a taxa média mundial. O principal problema do governo Dilma é a política. O país segue com muita lentidão na socialização do poder.
É preciso contextualizar essa dificuldade. Tivemos um segundo turno eleitoral com uma politização à direita através de uma pauta obscurantista e religiosa. Esse movimento dificultou a consolidação de uma agenda progressista do governo Dilma. O resultado disso foi que os representantes religiosos ganharam mais espaço. Por outro lado, a insuficiência de diálogo democrático do governo não conseguiu transmitir à sociedade um debate mais progressista sobre os grandes temas. Muito menos construir projetos nesse sentido.
Na sua estratégia institucional, o governo Dilma tenta diminuir a influência de caciques de partidos da base aliada. Ao que tudo indica, se trata de uma aposta política que altera a forma de relações entre governo e partidos da base. Algo que sempre desejamos que o governo Lula fizesse e que obviamente gera enfretamentos e retaliações.
A ousadia do governo Dilma é mais do que elogiável, devendo ser entendida e apoiada. Porém, o ponto problemático é não fazer o enfrentamento com os setores da direita no plano da cultura política e na afirmação de uma agenda nacional que contribua para isso.
É necessário debater a urgência de uma reforma política, da legalização do aborto, do combate à homofobia e principalmente deixar claro que o neoliberalismo é algo que deve ser rechaçado enquanto projeto. Apesar de ser importantíssimo, não basta dizer que 40,3 milhões de pessoas entraram na classe C e que os países centrais vão mal. É necessário dizer porque isto aconteceu, que a presença do Estado foi fundamental, que os mitos neoliberais da auto regulação do mercado, rechaçados no Brasil e adotados na Europa e Estados Unidos, levou a resultados tão dissonantes em um mesmo período.
A politização das pautas é fundamental, principalmente para se atingir um setor que não estava plenamente convencido da eleição de Dilma, em especial no primeiro turno: a juventude. Travar debates ideológicos e adotar medidas democratizantes nas políticas de livre sexualidade, de drogas e cultura (sexo, drogas e rock`n roll) que mais diretamente ganham a atenção da juventude, em especial a parcela progressista dela. Isso é algo que deveria ser central no governo Dilma e é justamente um dos aspectos mais negligenciados por ele.
Não me refiro especificamente à adoção de políticas públicas para a juventude. Apesar da conservadora adoção da política de internação compulsória de usuários de crack, no geral o governo vai bem nesta área. Trata-se na verdade de entrar com espírito valente para disputar os valores neoliberais hegemônicos desde os anos 90 e bombardeados cotidianamente em nossas cabeças.
Primeiramente é essencial que o governo considere os fatores de poder para além do poder institucional. Neste sentido, a mídia, os movimentos sociais clássicos e os novos movimentos progressistas são agentes fundamentais para esta disputa. Todos estes fatores nos levam claramente à pauta da democratização da comunicação e do acesso aos bens culturais, principalmente através da principal ferramenta de comunicação utilizada pela juventude: a internet.
A política de democratização da internet e o acesso de bens culturais através dela são fundamentais para a disputa de valores da juventude. Não só por quebrar o monopólio da grande mídia empresarial, o debate da democratização da internet, relativização dos direitos autorais e acesso ao livre conhecimento é um debate que em si próprio faz a disputa ideológica contra o neoliberalismo.
Nós jovens adoramos ter acesso a filmes e seriados na internet de graça, baixar músicas gratuitamente, ver clipes no Youtube e principalmente entendemos a tão falada cultura hacker, pois crescemos com ela. Ou seja, se nosso projeto é a democratização dos bens de comunicação e dos bens imateriais por ser claramente antineoliberal, ganhar a juventude para isto não é uma tarefa árdua.
No entanto, o exemplo mais desmobilizador vem justamente de dentro do governo. O Ministério da Cultura, que no governo Lula avançou consideravelmente à esquerda, acabou se tornando o grande defensor dos valores mais neoliberais e que atingem mais diretamente à juventude no governo Dilma.
A ministra da cultura Ana de Hollanda ao proferir a frase de que “a internet, a Pirataria, a circulação livre e sem rigor vai (Sic) matar a Cultura Brasileira” não traduz a verdade, bem como reforça os valores mais neoliberais, dignos do PSDB e do Senador Azeredo, autor do tão combatido projeto de controle da internet, que ganhou o apelido de AI-5 Digital.
A disputa de valores na sociedade – especialmente na juventude - só pode se dar mediante a politização do debate. Devemos reforçar as mídias alternativas e a rede de blogueiros progressistas que contrapõe o poder de legitimação midiática aos quais a direita tem acesso. A adoção pelo governo Dilma de uma nova tática para disputar esses valores deve acontecer imediatamente, antes que seja tarde. Um bom começo seria modificar radicalmente essa política do Ministério da Cultura.

 *Clarissa Alves da Cunha é Vice-Presidenta da UNE.


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Erradicar de vez o trabalho escravo: Por Cláudio Puty

Por Cláudio Puty, publicado originalmente no jornal O Liberal.  
Erradicar de vez o trabalho escravo: Por Cláudio Puty “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas”
Artigo IV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948
A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo – a qual eu tive honra de ter sido eleito para presidir – pode vir a ser um passo fundamental para a consolidação dos direitos humanos no Brasil. Sim, porque o trabalho escravo não é apenas uma questão trabalhista; é crime de violação de direitos humanos. A CPI objetiva colocar a questão do trabalho escravo num plano mais amplo de avaliação das condições de trabalho no país, tanto no campo como na cidade. Seu ponto de partida foi a lista suja do Ministério do Trabalho que inclui 294 empregadores acusados de explorar trabalhadores, negando-lhes qualquer direito trabalhista ou humanitário.
A prática deste crime no Brasil já foi há muito tempo reconhecida; agora é preciso extirpá-lo definitivamente de nossa sociedade. Um país que lutou tanto para estabelecer a ampliar sua democracia e que agora está batendo recordes na geração de emprego não pode admitir a permanência de uma prática tão obsoleta e desumana quanto a servidão.
O artigo 2º da Convenção nº 29 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) define o trabalho forçado ou obrigatório como “todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para a qual não se tenha oferecido espontaneamente”. Na escravidão moderna não existe propriamente tráfico da mão de obra, como na Colônia e no Império, mas privação da liberdade, coação e constrangimento. Muitos analistas afirmam inclusive que as condições atuais são ainda piores do que as sofridas pelos escravos até o século XIX, pois hoje o trabalhador é descartável; se ele adoecer ou morrer, pode ser substituído. Estima-se que existam cerca de 25 mil vítimas do trabalho escravo no Brasil.
Os casos recorrentes desse crime – dias atrás, aliás, o STF abriu ação penal para investigar o deputado João Lyra (PSD-AL) – demonstram que a legislação vigente não tem sido suficiente para resolver o problema. Mesmo com a aplicação de multas e a suspensão do crédito rural, como vem acontecendo nos últimos anos, o recurso ao trabalho escravo ainda é um bom negócio para muitos empresários agrícolas, pois barateia significativamente o custo da mão de obra. Muitos infratores flagrados apenas pagam os direitos trabalhistas e voltam a infringir a lei.
Isso ocorre, entre outras razões, porque o instrumento legal para punição desse crime, o artigo 149 do Código Penal, prevê apenas dois anos de pena mínima, além de dispositivos que permitem abrandá-la, como convertê-la em distribuição de cestas básicas ou prestação de serviços à comunidade.
Nesse sentido, é preciso endurecer a legislação, adotando medidas mais drásticas, como o confisco das terras onde se constate a prática de trabalho escravo. É o que prevê, aliás, a PEC 438/2001, que está em tramitação no Congresso, mas está parada porque setores ligados a ruralistas desonestos a boicotam. Mas agora o presidente da Câmara, Marco Maia, prometeu colocar o projeto em votação antes do dia 13 de maio, aniversário da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravatura do Brasil.
Um ponto que dificultava a coibição desse tipo de crime era a questão da competência para julgá-lo, decidida em 2006 em favor da Justiça Federal. Agora, é preciso ajustar os procedimentos do Judiciário, estruturando a Justiça Federal nas diversas regiões, principalmente nas de fronteira agrícola, e dar celeridade aos processos.
Também se faz necessário aprimorar a fiscalização, aumentando o número de auditores fiscais do trabalho, delegados e agentes da Polícia Federal e membros dos Ministérios Públicos Estadual e Federal. Muitos ruralistas alegam que a fiscalização abusa do poder e é guiada por viés ideológico. Ora, estão querendo culpar o termômetro pela febre. Se algum abuso for comprovado, deve ser corrigido; mas que isso não sirva para justificar a recorrência do trabalho escravo.
(*) Cláudio Puty é deputado federal (PT-PA), presidente da CPI do Trabalho Escravo e militante da DS.
Fonte: Democracia Socialista.

domingo, 1 de abril de 2012

Encontro Estadual da Secretaria de Mulheres do PT Paraná


Neste Domingo 01/04/2012 em Curitiba, as Mulheres do Partido dos Trabalhadores  se reuniram  para debater políticas e suas pautas , votar o Coletivo para os próximos 4 anos e a eleição das delegadas para o Encontro Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores.
Na parte  da manhã tivemos  a  mesa, companheiras e companheiros dentre eles nosso Deputado Federal  Rosinha  e Deputado Estadual Professor Lemos que constroem para e com as mulheres , fico feliz em saber que nossas pautas de debates são defendidas pelos Companheiros também. Tivemos  painel com   a Deputada Estadual Luciana Rafaganin   , e com a Companheira Maria Helena  as duas fizeram considerações sobre nossas pautas de defesa  . A Deputada disse  que as Mulheres nunca estiveram tão representadas  como no Governo Dilma, mas que há muito que conquistar principalmente nos cargos eletivos.
Fizemos um debate construtivo com considerações de  todos os presentes , lembrando sempre das pautas : maior assistência a mulher do campo, efetivação da Lei Maria da Penha, Implantação  das  Delegacias, das casas de assistência , das creches no campo de trabalho, segurança , titularidades da terra, combate ao assédio, desvalorização da mulher, machismo, paridade dos cargos eletivos   e outras .
A tarde as Companheira Juliana e Marilda fizeram  resumo das propostas sugeridas,  dando um norte  as  ações do Coletivo .
Na Coordenação do Coletivo  ficou determinado  a  Companheira Antonina Passos , compõem este grupo 3 companheiras da Democracia Socialista.

Nossa construção é Coletiva.

“Lugar de Mulher é na Política
Lugar de Mulher é no PT “

Areadne Dias Cruz
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento de Mulheres de Antonina

sábado, 31 de março de 2012

"O golpe e a ditadura militar"

Por Emir Sader, no site da Carta Maior
O Brasil não era um país feliz antes do golpe de 1964. Mas era um país que dava sequência a um ciclo longo de crescimento econômico, impulsionado por Getúlio, como reação à crise de 1929. Nos anos prévios ao golpe era um país que começava a acreditar em si mesmo. Quem toma com naturalidade agora a Copa do Mundo de 1958 não sabe o quanto ela foi importante para elevar a auto estima dos brasileiros, que carregavam, desde o fatídico 16 de julho de 1950, o trauma do complexo de inferioridade.
Mas isso veio junto com a bossa nova, o cinema novo, o novo teatro brasileiro, um clima de expansão intelectual por grandes debates nacionais, pela articulação com grandes temas teóricos e culturais que começavam a preparar o clima da década de 1960.
O país não foi surpreendido pelo golpe. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, militares que tinham ido à Itália tinham se articulado estreitamente com os EUA. Na sua volta, liderados por Golbery do Couto e Silva e por Humberto Castelo Branco, fundaram a Escola Superior de Guerra e passaram, a partir dali, a pregar os fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional – concepção norte-americana para a guerra fria - que cruzou a história brasileira ao longo de toda a década de 1950 até, depois de várias tentativas, desembocar no golpe de 1964 que, não por acaso, teve naqueles oficiais da FFAA seus principais líderes.
Durante a década de 1950 o Clube Militar foi o antro a partir do qual articulavam golpes contra o Getúlio – seu inimigo fundamental, pelo nacionalismo e por suas políticas populares e articulação com o movimento sindical. O suicídio do Getulio brecou um golpe pronto e permitiu as eleições de 1955, em que novamente os golpistas foram derrotados.
Fizeram duas intentonas militares fracassadas contra JK e elegeram Jânio, com a velha e surrada – mas sempre sobrevivente, até hoje – bandeira da corrupção. Se frustraram com a renúncia deste e naquele momento tentaram novo golpe, valendo-se do vazio da presidência e da ausência do Jango, em viagem para à China. A mobilização popular e a atitude do Brizola de levantar em armas o Rio Grande do Sul na defesa da legalidade, impediram e adiaram o golpe.
Mas os planos golpistas não se detiveram e acabaram desembocando em primeiro de abril de 1964 no golpe, que contou com amplo processo de mobilizações da classe média contra o governo, com participação ativa da Igreja católica, da mídia, das entidades empresariais, que desembocou na ação da alta oficialidade das FFAA, que liquidou a democracia que o Brasil vinha construindo e instaurou o regime do terror que passou a vigorar no Brasil.
Foi o momento mais grave de virada regressiva da história brasileira. Interrompeu-se o processo de democratização social, de afirmação econômica e política do país, para impor a opressão econômica e política, a subordinação externa, mediante uma ditadura brutal. O país, sob o comando dos militares, da Doutrina de Segurança Nacional, do grande empresariado nacional e internacional, do governo dos EUA, optou por um caminho que aprofundou suas desigualdades sociais, colocando o acento no mercado externo e na esfera de alto consumo do mercado, no arrocho salarial, na desnacionalização da economia e na opressão militar.
Completam-se 48 anos do golpe militar. Continua sendo hora de perguntarmos a todos: Onde você estava no momento mais grave de enfrentamento entre democracia e ditadura? Cada um, cada força política, cada empresário, cada órgão da imprensa, cada igreja, cada militar. Os temas continuam atuais: denuncismo moralista a serviço do enfraquecimento do Estado, abertura escancarada da economia, resistência às políticas sociais e aos direitos do povo, uso da religião contra a democracia republicana e o caráter laico do Estado, uso da mídia como força política da direita, etc. etc.
Que seja uma semana de reflexão e de ação política. Que o governo finalmente nomeie os membros da Comissão da Verdade e que não passemos mais um primeiro de abril sem apurar tudo o que o regime de terror impôs pela força das botas e das baionetas ao país e que a democracia faça triunfar a verdade.

Movimento de jovens inicia ações contra torturadores da ditadura

O Levante Popular da Juventude realiza em várias capitais do país ações simultâneas de denúncia de diversos torturadores, que continuam impunes. Os manifestantes apoiam a Comissão da Verdade e exigem a apuração e a punição sobre os crimes cometidos pela ditadura militar. 

O caráter das ações, conhecida como "escracho", baseia-se em ações similares as que acontecem na Argentina e no Chile, em que jovens fazem atos de denuncias e revelações dos torturadores que continuam soltos e sem julgamento sobre suas ações durante a Ditadura Militar.  
Levante Popular da Juventude

O Levante Popular da Juventude é um movimento social organizado por jovens que visa contribuir para a criação de um projeto popular para o Brasil, construído pelo povo e para o povo. Não é ligado a partidos políticos.

Com caráter nacional, tem atuação em todos os estados do país, no meio urbano e no campo. Se propõe a articular jovens, militantes de outros movimentos ou não, interessados em discutir as questões sociais e colaborar para a organização popular. 

Tem como objetivo propiciar que a juventude tome consciência da sua história e da realidade à sua volta para transformá-la.

O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade, por meio de ações de Agitação e Propaganda. Não há bandeiras previamente definidas. A luta política se dá pelas pautas escolhidas pelos próprios militantes, que realizam atividades de estudo e debates, sistematicamente, por todo o país.


Leia aqui o manifesto.
Acompanhe as ações:
Cerca de 150 jovens do Movimento Levante Popular da Juventude realizam um protesto contra o torturador David dos Santos Araújo, o Capitão “Lisboa”, em frente a sua empresa de segurança privada Dacala, na Zona Sul da cidade de São Paulo, na Av. Vereador José Diniz, 3700.
Os manifestantes promovem um ato de escracho/esculacho contra David dos Santos para denunciar suas ações enquanto torturador do Regime Militar.
 Quem é
David dos Santos Araújo é assassino e torturador, de acordo com Ação Civil Pública do Ministério Público Federal. A ação registra o seu envolvimento na tortura e morte de Joaquim Alencar de Seixas. Em agosto de 2010, o Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública pedindo o afastamento imediato e a perda dos cargos e aposentadorias do delegado da Polícia Civil paulista pela participação direta de atos de tortura, abuso sexual, desaparecimento forçados e homicídios em serviço e nas dependências de órgãos da União.
Araújo é delegado de Polícia Civil aposentado e dono da uma empresa de segurança privada, a Dacala. Nas ações de repressão no Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi) utilizava o nome de “Capitão Lisboa”.
O livro Dossiê Ditadura – produzido pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos – tem o registro de que Joaquim e seu filho, Ivan Seixas, foram presos em abril de 1971 e levados para o (DOI-Codi), onde foram espancados. Na sala de interrogatório, foram torturados um em frente ao outro.
Torturas
Os assassinos de Joaquim Alencar de Seixas foram identificados por seus familiares e companheiros como o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, o delegado Davi Araújo dos Santos, o investigador de polícia Pedro Mira Granziere e outros conhecidos apenas por apelidos.
Em depoimento no Dossiê Ditadura, Ivan Seixas contou que na sala de tortura foi pendurado no “pau de arara”, enquanto seu pai foi posto na “cadeira do dragão”. Ambos foram torturados por uma equipe de umas cinco pessoas, dos quais conseguiu identificar, entre outros, David dos Santos Araújo.
O “Capitão Lisboa” também é acusado de abuso sexual, como declarou Ieda Seixas, que em depoimento ao Ministério Público Federal disse que foi prensada na parede por ele, que depois enfiou a mão dentro da sua roupa, falando obscenidades e fazendo ameaças.
Armas ilegais
David dos Santos Araújo é portador de 111 armas em situação ilegal, de acordo com investigação da Polícia Federal. A empresa de segurança Osvil, de propriedade de Araújo, perdeu por irregularidades o alvará de funcionamento como empresa de segurança que autorizava o registro de armas.
Com isso, as armas deveriam ser entregues à Polícia Federal. No entanto, essas armas se encontram extraviadas. Depois de perder o alvará, Araújo abriu uma nova empresa de segurança, chamada Dacala Segurança, que tem como clientes o grupo Anhanguera Educacional, Banco Itaú, Ford, Jac Motors, Banco Safra, Volkswagen, Banco Santander.
O processo da PF afirma que ao todo Araújo tem mais de duzentas armas ilegais, além de um arsenal de oitocentas regularmente registradas em nome da empresa Dacala, que é acusada também pelo emprego ilegal de armas de fogo na atividade de segurança privada, de acordo com a Polícia Civil.
Em Belo Horizonte, cerca de 70 pessoas participaram de uma ação de escracho em frente a residência do torturador Ariovaldo da Hora e Silva, na manhã desta segunda-feira (26), no bairro da Graça.

A manifestação contou com faixas, cartazes e tambores, além de distribuirem cópias de documentos oficiais do DOPS, contendo relatos das sessões de tortura com a participação de Ariovaldo, para conscientizar a população vizinha ao criminoso.

Os vizinhos se mostraram surpresos com o fato do Ariovaldo ter sido torturador do Regime Militar. "Não sabia que o Seu Ari era um torturador. Tenho na família  um caso de perseguido pela Ditadura e vou divulgar isso", afirmou um morador da região. O denunciado permaneceu em casa ouvindo e assistindo a manifestação, tendo aparecido na janela por alguns segundos.
Quem é
Ariovaldo da Hora e Silva foi investigador da Polícia Federal, lotado na Delegacia de Vigilância Social como escrivão.Delegado da Polícia Civil durante a ditadura, exerceu atividades no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) entre 1969 e 1971, em Minas Gerais.

Ariovaldo da Hora e Silva consta na obra Brasil Nunca Mais (Projeto A), acusado de envolvimento com a morte de João Lucas Alves e de ter praticado tortura contra presos políticos.Foram vítimas dele Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.

Na primeira comissão constituída para tratar do recolhimento dos documentos do DOPS ao Arquivo Público Mineiro (APM), em 1991, ele foi designado para representar a Secretaria da Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (SESP). Em 1998, foi Coordenador de Informações da Coordenação Geral de Segurança (COSEG).
Em Porto Alegre, cerca de 100 jovens estiveram hoje às 9h da manhã em frente à casa do Coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações de Porto Alegre e um dos 13 brasileiros acusados pela Justiça Italiana pelo desaparecimento do militante político Lorenzo Ismael Viñas em Uruguaina (RS), no ano de 1980, para exigir justiça.
A rua aparentemente tranquila mudou com a chegada da juventude. Os muros antes brancos agora denunciavam: “Aqui em frente mora um torturador!”. Os gritos de ordem, cartazes e cantos chamavam a atenção dos vizinhos, que se amontoavam nas janelas para entender o que se passava. Durante os 40 minutos de manifestação, quem transitou pela rua soube que naquele prédio mora um torturador e que o povo está organizado para não deixar que seus crimes caiam no esquecimento.
A atividade seguiu com distribuição de panfletos e conversa no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O protesto faz parte de uma ação conjunta organizada pelo Levante Popular da Juventude e acontece, além do Rio Grande do Sul, nos estados do Pará, Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.
Quem é Carlos Alberto Ponzi?
Carlos Alberto Ponzi chefiou em Porto Alegre o Serviço Nacional de Informações (SNI), um dos braços da repressão do ditadura, que foi criado em 13 de junho de 1964 para supervisionar e coordenar as atividades de informações e contra-informações no Brasil e exterior.
A Justiça italiana abriu processo contra Carlos Alberto Ponzi, sob a acusação de assassinato. A denúncia, aberta em dezembro de 2010, abrange outros dez militares e civis brasileiros, que chefiaram unidades de repressão política no governo João Baptista Figueiredo. Carlos Alberto Ponzi não pode entrar em território italiano sob o risco de prisão pelo desaparecimento em Uruguaiana (RS) do ítalo-argentino Lorenzo Viñas, no dia 26 de junho de 1980.
O caso está com o juiz Giancarlo Capaldo, que presidiu um processo contra Pinochet pelo desaparecimento de cidadãos ítalo-chilenos em Santiago. “Queremos chegar às responsabilidades individuais”, diz Giancarlo Maniga, que representa as famílias das vítimas na Itália. “Eles desapareceram na Operação Condor”, afirmou Claudia Allegrini, mulher de Viñas, que foi subsecretária de Direitos Humanos da Argentina. As famílias de Viñas e Campiglia acusam o governo brasileiro pela responsabilidade.
Em dezembro de 2007, a Justiça da Itália pediu a extradição de Carlos Alberto Ponzi e mais 139 militares e policiais sul-americanos envolvidos em sequestro, tortura e morte de pelo menos 25 militantes políticos que foram alvo da Operação Condor e tinham cidadania italiana. Treze brasileiros foram acusados de participar do desaparecimento dos ítalo-argentinos Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Viñas. Dos 13, seis já morreram. Os que ainda permanecem vivos podem prestar esclarecimentos ao Ministério Público.
O coronel Carlos Alberto Ponzi sofre também acusação pelo desaparecimento de Viñas do Ministério Público Federal, que ajuizou representações em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Uruguaiana (RS), pedindo a abertura de inquérito contra ex-autoridades da ditadura militar acusadas de assassinato e sequestro. As ações foram movidas pelos procuradores Eugênia Augusta Fávero e Marlon Alberto Weichert. 
Cerca de 80 jovens do Levante Popular da Juventude realizam o escracho em frente ao prédio Visconde, em Belém, onde reside torturador e apoiador da ditadura militar Adriano Bessa.
Eles entregaram um manifesto à população convocando a sociedade a se posicionar em defesa da Comissão Nacional da Verdade e contra os torturadores.
Quem é Adriano Bessa Ferreira?
Adriano Bessa Ferreira prestou serviço militar e fez carreira no setor financeiro. Foi presidente do Banco do Estado do Amazonas, da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belém e gerente de agências bancárias. Foi também professor da Universidade Federal do Pará.
Durante o período do regime militar, atuou como delator de atividades do militantes que lutavam contra a ditadura. Seu nome consta de listas da extinta Comissão Geral de Investigações (CGI), criada para “apurar atos de corrupção ativa e passiva ou contrários à preservação e consolidação da Revolução Brasileira de 31 de março”.
Segundo relatos de militantes políticos da época, munido por informações privilegiadas, em função de seus cargos de influência, delatou vários militantes.
Atualmente, está aposentado. E faz poesias: “A vida é um teatro, ilusão / que tem começo, meio e fim / Um dia acabará a encenação / E a vez está chegando para mim”.
O Levante Popular da Juventude esculachou José Armando Costa, em Fortaleza (CE), que foi delegado da Polícia Federal na capital cearense no início da década de 70. À época, presos políticos relataram à Justiça Militar que a tarefa do delegado era fazer interrogatórios logo após as sessões de tortura e coagia-os a assinar falsos depoimentos sob ameaça.
Costa aparece nos depoimentos de ao menos cinco ex-presos políticos torturados no Ceará, contidos no projeto Brasil Nunca Mais, da Arquidiocese de São Paulo. “Olha, rapaz, se você não concordar com isso que eu mandei colocar, você pode entrar numa faixa pesada”, teria dito ao engenheiro Lavoisier Alves Cavalcante, com 28 anos em 1973, conforme depoimento da vítima.
No depoimento de Ricardo de Matos Esmeraldo, estudante de 24 anos em 1973, teria desdenhado das torturas sofridas pela vítima quando levado à sua presença para interrogatório. “Dr. Armando, então, disse que aquilo era tolice e que em matéria de surra, até ele, Dr. Armando, havia apanhado de seus pais, motivo por que o interrogando não devia dar muita atenção àquele tratamento”.
José Armando Costa também é citado nos depoimentos, todos coletados em 1973, de Geraldo Majela Lins Guedes, comerciante, 24 anos, José Auri Pinheiro, estudante, 22 anos, e Vicente Walmick Almeida Vieira, físico, 31 anos. Em todos os casos, as vítimas sofreram tortura e foram levadas à presença de Costa, frequentemente identificado como “Dr. Armando”, para interrogatório. 
Paraná
Em Curitiba (PR), o Levante Popular da Juventude promoveu um ato público, na Boca Maldita, no centro da capital paranaense, para denunciar os assassinatos, torturas e violações de direitos humanos na Ditadura Militar. Entre os denunciados está o tenente Paulo Avelino Reis, citado como torturador em documentos do Grupo Tortura Nunca Mais.
O protesto abrigou lutadores de diferentes gerações, tanto os que viveram os horrores da repressão, assim como aqueles que não querem que esses setores conservadores voltem a ter voz na política nacional.
A abertura da manifestação contou com uma mística do Levante Popular da Juventude, em que foi lido o Manifesto Levante Contra a Tortura. Nele, os jovens declaram: “Nós acreditamos na justiça e não temos medo de denunciar os verdadeiros responsáveis por tanta dor e sofrimento. Convidamos a juventude e toda a sociedade para se posicionar em defesa da Comissão Nacional da Verdade e contra os torturadores”.
Se no dia 8 de março deste ano, as mulheres silenciaram os famosos espaços “de conversas só para homens” da tradição na Boca Maldita, hoje será a vez de silenciar muitas vozes que não querem a verdade sobre os crimes da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).
Ações de denúncia aos crimes cometidos pelo Regime Militar e denunciando torturadores acontecem em outras cidades brasileiras neste dia 26. Já foram feitas atos de “escracho” em Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Fortaleza (CE) e Belém (PA). 
Comissão da Verdade
O ato também marca a mobilização para o lançamento do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, quando mais um estado se soma à reivindicação nacional pela instauração da Comissão Nacional da Verdade. O lançamento acontecerá no dia 12 de abril, às 19:30, no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Um leque amplo de organizações assina e participa da atividade, desde os partidos de esquerda, além dos seguintes sindicatos: dos Petroleiros do Paraná (Sindipetro-PR), dos Servidores do Judiciário (Sindijus), dos Trabalhadores da Vale Fertilizantes (Sindiquímica), dos Engenheiros (Senge), entre outros. Os jovens marcam presença com a poesia e a animação do Levante Popular da Juventude.
Entidades voltadas à defesa dos direitos humanos participaram da articulação, assim como as entidades no campo institucional, caso da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do estado e Promotoria Pública.
“Essa é uma luta de todo o povo brasileiro, no sentido de impulsionar a Comissão da Verdade na ampla e rigorosa apuração dos crimes da ditadura civil-militar, contribuindo para a construção de um Brasil verdadeiramente democrático e soberano”, avalia o membro da direção do Sindicato dos Engenheiros, Antônio Goulart.
Escrito por  Levante Popular da Juventude

“Fruet e Ducci só estão à esquerda quando sentados: estão à esquerda de alguém”, ironiza Dr. Rosinha.

Em entrevista ao Blog do Tarso, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) voltou a defender a tese da candidatura própria do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura de Curitiba. A entrevista é a segunda da série com pré-candidatos a prefeito da capital realizada pelo blog.
Dr. Rosinha ironizou as possíveis concepções de esquerda de outros dois pré-candidatos: o atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), e o ex-tucano e deputado federal Gustavo Fruet (hoje no PDT). “Ambos fazem parte de um mesmo grupo político. Tanto um quanto outro estão distantes de qualquer coisa que possamos definir como pensamento de esquerda”, criticou. “Os dois só estão à esquerda quando sentados: estão à esquerda de alguém”, ironizou.
Fruet, um dos principais críticos à época do Governo Lula, hoje quer uma aliança com o PT da capital para concorrer às eleições de outubro. “No Congresso, Fruet foi um dos nossos maiores críticos, não com o mesmo grau de hostilidade de um Arthur Virgílio, mas no mesmo viés do PSDB, conservador”, argumentou o petista.
Na entrevista, Dr. Rosinha também avaliou o Governo Dilma e, na esfera estadual, as administrações do ex-governador Roberto Requião (PMDB) e do atual, Beto Richa (PSDB). “Beto Richa tem retomado as mesmas políticas de direita de seu padrinho, Jaime Lerner. Além de repassar serviços públicos para organizações sociais, inovou ao praticar uma espécie de supernepotismo, inflando as secretarias comandadas por seu irmão e por sua esposa.”
O pré-candidato ainda defendeu o financiamento público de campanha e o voto em listas pré-ordenadas. “Tem gente que diz: ‘ah, mas o voto em lista favorece o PT’. Se favorece é porque temos projeto. Se aprovarmos o voto em lista, outros partidos serão obrigados a elaborar projetos. Isso é bom para o país, enriquece o debate.”
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Blog do Tarso – Dr. Rosinha, obrigado por ter aceitado o convite para ser entrevistado pelo Blog do Tarso, sobre as eleições de outubro. Fale um pouco sobre sua trajetória política.
Dr. Rosinha - Nasci em Rolândia, região Norte do Estado. Estudei medicina na Universidade Católica do Paraná, hoje PUC, em Curitiba. Sou médico pediatra, servidor da Prefeitura Municipal de Curitiba licenciado, sem remuneração, desde que fui eleito vereador, em 1988.
Comecei minha militância política no movimento da saúde e, posteriormente, no sindical. Participei da fundação do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores.
Antes disso, na luta pela saúde publica, presidi no Paraná o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde. Em 1991, fui eleito deputado estadual, e, em 1998, deputado federal. Durante esses quatro mandatos na Câmara dos Deputados também já presidi o Parlamento do Mercosul.
Blog do Tarso – Quais são os pontos fortes e os pontos fracos, até agora, do Governo da Presidenta Dilma Rousseff? 
Dr. Rosinha - O ponto mais forte do governo Dilma foi ter ganhado a confiança da sociedade. Muitos achavam que ela ficaria dependendo do Lula. Mas Dilma mostrou ser independente e capaz.
Outro ponto forte é a forma como tem enfrentado a crise econômica mundial. Diga-se de passagem, uma crise nos países centrais da economia. Tanto ela como Lula têm enfrentado a maior crise econômica da história. Economistas dizem que esta crise é mais grave que a de 1929. Este é, a meu ver, um dos pontos mais fortes, pois FHC não conseguiu enfrentar as crises em seu governo. E olha que, naquela época, eram crises de países periféricos.
Pontos fracos? Não me recordo de nenhum, ela tem enfrentado e superado todos os desafios. 
Blog do Tarso – O senhor é pré-candidato para a eleição de Prefeito de Curitiba em 2012. Com quais partidos que o senhor aceitaria fazer coligação?
Dr. Rosinha - O PT definiu em seu 4º Congresso que os únicos partidos com os quais estão vetadas coligações são DEM, PSDB e PPS.
Na qualidade de pré-candidato, aceito coligar com todos os partidos da base aliada da presidenta Dilma, destacando que, a meu ver, o PT deve encabeçar essa aliança em um primeiro turno. A exceção em Curitiba seria o PSB, que por aqui está totalmente alinhado com a direita.
Se eventualmente não conseguirmos chegar a um segundo turno, daí, sim, poderíamos debater o apoio a um ou outro candidato.
Blog do Tarso - Haverá disputa interna no PT? Inclusive com o deputado Tadeu Veneri?
Dr. Rosinha - Historicamente, o PT é um partido muito intenso, com muito debate, muita disputa interna. Sempre foi assim e espero que sempre seja. É um dos pontos fortes do partido.
No momento, a disputa em Curitiba se dá entre os que querem a candidatura própria e entre a ala que defende o apoio ao candidato de outro partido já no primeiro turno. Decidiremos por uma das duas propostas num encontro em abril, no qual todos os filiados em dia com o partido poderão votar.
Se a tese da candidatura própria sair vencedora, passaremos a discutir qual o melhor quadro para disputar a prefeitura da capital. O meu nome e o do deputado Tadeu Veneri já estão colocados.
Blog do Tarso – Quem o senhor acha que está um pouco mais à esquerda, Gustavo Fruet ou Luciano Ducci?
Dr. Rosinha - Ambos fazem parte de um mesmo grupo político. As concepções, tanto de um quanto de outro, estão distantes de qualquer coisa que possamos definir como pensamento de esquerda.
Ducci é o candidato a prefeito do atual governador Beto Richa, que tem implantado no estado medidas franca e abertamente lernistas.
Fruet vem do mesmo grupo. No Congresso, foi um dos maiores críticos do governo Lula, não com o mesmo grau de hostilidade de um Arthur Virgílio, mas no mesmo viés do PSDB, conservador.
Ainda ontem, na campanha de 2010, ele era visto andando de mãos dadas com Richa e Serra.
Ambos só estão à esquerda quando sentados: estão à esquerda de alguém.
Blog do Tarso - Caso o senhor se eleja, o que fará com o ICI – Instituto Curitiba de Informática?
Dr. Rosinha - Fácil. Deixará de existir no atual modelo. Mudaremos o modelo e faremos com que todas as atividades e ações na área da informática sejam desenvolvidas por empresa estatal ou pública. Ou seja, acabarei com mais uma privataria tucana.
Blog do Tarso – Qual sua opinião sobre as Organizações Sociais – OSs criadas no Governo FHC e Beto Richa, a Fundação de direito privado de Luciano Ducci e a Empresa Estatal de Saúde criada pelo Governo Lula? O senhor prefere que a saúde seja prestada por autarquias ou pela Administração direta?
Dr. Rosinha - Fui um dos que lutou para que a Constituição de 1988 garantisse a saúde como um direito do cidadão e dever do Estado.
Sob o ângulo da legalidade e do modelo de gestão, é possível dizer que as organizações sociais não cumprem os pressupostos legais para garantir ao cidadão o direito à saúde.
Os outros dois modelos se diferenciam das OSs. Dependendo do que dispõe a legislação que as criam (fundações ou empresas), elas podem garantir o serviço totalmente público, com transparência e sem duas portas de entrada.
É o caso da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Chamo a atenção que a Ebserh não pode ser considerada uma terceirização dos serviços, já que está definido no projeto que todos os atendimentos devem ser realizados via SUS. Ou seja, não terá leitos privados. Todas as compras também devem ser feitas por licitação e todos os funcionários, contratados através de concurso público.
Blog do Tarso – Socialismo ou social-democracia? Hoje o PT é social-democrata?
Dr. Rosinha - Eu sou socialista. Quanto ao PT, o que acontece é que, ao chegar ao governo, o partido foi obrigado a fazer certas concessões, por conta do modelo político vigente, o presidencialismo de coalizão.
Mas isso é uma questão de governo. O partido, sua base, continua carregando as bandeiras históricas do socialismo, da igualdade.
Isso ficou claro no nosso 4º Congresso, em 2011, quando aprovamos medidas como, por exemplo, a paridade de gênero nas chapas do partido.
Blog do Tarso – Qual sua opinião sobre o Governo Requião? E o Governo Beto Richa?
Dr. Rosinha - Embora com algum viés personalista e problemas como a prática do nepotismo, Requião fez uma gestão com vários pontos positivos: priorizou a área social, apoiou os programas do governo Lula, barrou as privatizações e terceirizações, acabou com a farra dos gastos em publicidade da era Lerner, entre outras ações elogiáveis.
Já Beto Richa tem retomado as mesmas políticas de direita de seu padrinho, Jaime Lerner. Além de repassar serviços públicos para organizações sociais, Richa inovou ao praticar uma espécie de supernepotismo, inflando as secretarias comandadas por seu irmão e por sua esposa.
Isso sem contar o primo dele dirigindo o Detran e o filho nomeado por Luciano Ducci na Prefeitura de Curitiba, um típico caso de nepotismo cruzado.
Assim como Serra em São Paulo, Richa demonstrou que é um político sem palavra. Em 2008, quando era prefeito e candidato à reeleição em Curitiba, ele disse com todas as letras que cumpriria os quatro anos de mandato, se fosse eleito.
Beto Richa também prometeu não fazer novas privatizações, mas novos trechos de pedágio serão concedidos em breve. Vemos uma tendência clara pró-interesses privados em várias outras áreas, como na Celepar, por exemplo.
Não se pode esquecer ainda que o PSDB do Paraná vive uma crise séria com o escândalo Derosso. Vão mesmo dar a legenda para ele, com a ficha suja que tem, ser candidato tucano a vereador em outubro?
Representante da elite curitibana, Beto Richa sempre foi um parceiro de Derosso e não deve deixá-lo na mão, assim como não deixou na mão o Ezequias Moreira, lembra dele? Aquele que teve a sogra fantasma nomeada por Beto Richa e hoje é funcionário de confiança do governo estadual. Esse é o tão falado “novo Paraná”…
Blog do Tarso – O que o senhor acha do PSD?
Dr. Rosinha - É um partido amorfo em termos ideológico e programático. Foi criado para aderir ao governo, seja ele qual for.
O Gilberto Kassab criou a legenda depois que a eleição da presidenta Dilma mostrou uma oposição sem rumo, criou para poder aderir ao governo.
Veja o exemplo de São Paulo: namorava o PT, mas bastou o José Serra lançar sua pré-candidatura a prefeito e aparecer na frente nas pesquisas, e lá foi o PSD atrás.
É aquele tipo de legenda que a gente diz que não é de esquerda, nem direita, nem de centro – muito pelo contrário.
Blog do Tarso – O que o senhor acha das medidas neoliberais de prefeitos e governadores do PSB e de outros partidos ditos de esquerda?
Dr. Rosinha - Quando Lula assumiu a Presidência da República, imperavam no Brasil as políticas neoliberais. Essas políticas haviam ganhado corações e mentes dos governantes, e não havia espaço para outras ideias.
Lentamente, Lula foi fazendo a transição para outro modelo, o do desenvolvimento. Hoje, com Dilma, estamos deixando para trás o neoliberalismo.
Muitos governantes, por inércia, medo ou por ideologia, insistem no neoliberalismo, mas creio que logo mesmo o mais empedernido dos neoliberais enxergará  que este modelo não dá certo.
Como sua pergunta se refere aos que se dizem de esquerda e persistem nesse modelo, tenho comigo que não são de esquerda, mas oportunistas que usam uma sigla de esquerda para ganharem eleições.
Blog do Tarso – O senhor está acompanhando a gestão do primeiro prefeito do PT na região metropolitana de Curitiba? O que acha do Governo do Luizão?
Dr. Rosinha - Acompanho à distância, e o que vejo são resultados positivos em todas as áreas. Tem diminuído a violência, melhorou o atendimento na saúde, inclusive reabriu o hospital.
Atacou e reduziu bastante as enchentes, investiu em cultura e educação. Poderia ampliar a lista de seus feitos, mas não é o caso. Só afirmo que é, se não o melhor, um dos melhores prefeitos da região metropolitana.
Blog do Tarso - Por que o senhor e o PT defendem o financiamento público de campanha e o voto em lista na reforma política?
Dr. Rosinha - O financiamento público de campanha é necessário porque é uma forma de combater a corrupção. Hoje, o que se vê são empresas que fazem doações para campanhas –às vezes para vários candidatos que concorrem para o mesmo cargo– esperando depois poder lucrar em cima dos mandatos.
Ou seja, não doam por questões ideológicas, mas na perspectiva de posteriormente conseguir contratos e outros favorecimentos.
Assim, de certa forma hoje as campanhas já são financiadas, de maneira indireta e ilegal, com dinheiro público.
Com o financiamento público, isso acaba, porque se eu não lhe dou dinheiro hoje, não posso te colocar contra a parede mais tarde. Se conseguirmos aprovar o financiamento público, teremos mais transparência nos gastos das campanhas.
Sei que não acaba, mas criaremos mecanismos mais efetivos para evitar o famigerado caixa dois.
Já o voto em lista fechada é bom porque fortalece os partidos, os projetos. Os partidos no Brasil hoje são muito carentes de projetos, são personalistas, centrados em caciques. Você vota em uma pessoa, não vota em um projeto de país, Estado ou município.
Tem gente que diz: “ah, mas o voto em lista favorece o PT”. Se favorece é porque temos projeto. Se aprovarmos o voto em lista, outros partidos serão obrigados a elaborar projetos. Isso é bom para o país, enriquece o debate.
Fonte: Dr.Rosinha. http://drrosinha.com.br